09/03/2012

Lidando com a dislexia

Estratégias escolares para otimizar a aprendizagem de indivíuos diagnósticados com dislexia

  Daniella Didio*


Vivemos em uma sociedade letrada, na qual se faz necessário para a comunicação com o mundo o conhecimento do universo da leitura e da escrita. Com o surgimento de novas tecnologias, cada vez mais é exigido que os indivíduos tenham habilidades além da leitura e escrita, ligadas à compreensão de textos, expressão clara e inteligível de ideias, seja para estar inserido no mercado de trabalho ou para compreender questões da vida cotidiana.

A leitura e escrita em crianças são tema predominante nos meios educacionais, mas também têm sido foco de pesquisas em áreas como a psicologia, a linguística e a fonoaudiologia. Conhecer as estratégias de leitura e escrita utilizadas por crianças nos anos iniciais de escolarização é fundamental para a prevenção, identificação e intervenção nas dificuldades de leitura e escrita. A leitura, além de ser um dos meios mais difundidos de comunicação humana, é um importante instrumento de autoeducação e de estimulação cognitiva, que possibilita o acesso a diversas informações e a inserção efetiva na sociedade.

"Quando leio, somente escuto o que estou lendo e sou incapaz de me lembrar da imagem visual da palavra escrita" - Albert Einstein

Quando as crianças começam a entrar em contato com a leitura alfabética, a leitura geralmente acontece sem compreensão, pois, apesar da conversão letra-som, os recursos centrais de atenção e memória estão voltados para a tarefa de decodificação. No momento em que é adquirida a automatização da decodificação, a criança já consegue ter acesso ao significado. Após esse processo, com a prática e a 29exposição gradual a textos, desenvolve-se a estratégia ortográfica, na qual os níveis lexical e morfêmico são reconhecidos diretamente, sem a necessidade de conversão fonológica (letra-som). A partir da representação ortográfica, a criança tem acesso direto ao sistema semântico, já que possui um léxico mental ortográfico, podendo relacionar a palavra escrita diretamente ao seu significado e fazer uma leitura competente.

Diversos autores destacam que a decodificação, usada na estratégia alfabética, é essencial para o desenvolvimento da leitura, visto que o processo de decodificação fonológica é fundamental para a aquisição das representações ortográficas das palavras, o que posteriormente permitirá a leitura via estratégia ortográfica. Já nos estágios posteriores, a leitura ortográfica passa a ser predominante; porém, a decodificação ainda continua sendo de extrema importância, pois o leitor estará sempre se deparando com palavras desconhecidas ou pouco usadas.

O modelo de leitura de Dupla-Rota tem sido muito estudado no mundo todo e destaca que a leitura em voz alta de um sistema de escrita alfabético pode ocorrer pelo menos de duas maneiras: por meio de um processo visual direto (palavras familiares já armazenadas que são recuperadas através de exposição visual – rota lexical) ou através de um processo fonológico (correspondência entre letras e fonemas – rota fonológica). As duas rotas de leitura têm como ponto de partida o sistema de análise visual, que busca identificar as letras do alfabeto e a posição de cada letra na palavra, e agrupá-las.

De acordo com Share,
“A rota fonológica é essencial para o desenvolvimento da leitura. O processo de decodificação fonológica é fundamental para a aquisição das representações ortográficas das palavras, o que posteriormente possibilitará a leitura via rota lexical”.

A leitura é um processo que envolve linguagem escrita, atenção, habilidade motora, memória, organização de texto e imagem mental, e sua aquisição e desenvolvimento varia para cada indivíduo.

Indivíduos diagnosticados com dislexia costumam apresentar dificuldades relacionadas a habilidades de reconhecimento das palavras e compreensão da leitura. É importante destacar que as dificuldades devem interferir no desenvolvimento e desempenho escolar da criança/adolescente para que se faça necessário o diagnóstico e intervenção. 

 Geralmente o distúrbio fica mais evidente no momento da alfabetização, e dificuldades ligadas ao processo fonológico (rimas, canções) na educação infantil podem ser indicadores de futuras dificuldades nas áreas da leitura e da escrita. Na escola, cada criança/adolescente diagnosticado com dislexia poderá ter seu aprendizado otimizado com estratégias individualizadas para cada caso como (baseado em FRANÇA; MOOJEN, 2006 apud ROTTA; OHLWEILER; RIESGO 2006):

ESTRATÉGIAS COMPORTAMENTAIS

Mostrar ao aluno que sua dificuldade é compreendida;
Incentivá-lo e encorajá-lo a tirar suas dúvidas;
Manter o aluno sentado próximo ao professor, mas não longe da turma;
Garantir que o material fornecido para leitura é de sua compreensão ou foi compreendido pelo aluno;
Destacar os aspectos positivos nas atividades;
Evitar que tenha que ler em público; quando necessário, possibilitar que o aluno se prepare para tal em casa ou anteriormente;
Não criticar o aluno em público; Orientar o aluno individualmente quando preciso.

"A leitura envolve linguagem escrita, atenção, habilidade motora, memória, organização de texto e imagem mental, variando de pessoa para pessoa"

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS

Auxiliar o aluno a aprender a resumir anotações;
Permitir o uso de computador e corretor;
Permitir, se necessário, o uso de gravador;
Utilizar materiais visuais (imagens, mapas, gráficos) além dos escritos;
Evitar cópias e atividades escritas longas.

AVALIAÇÃO NA ESCOLA

Realizar se preciso avaliações
Prever tempo extra para realização da avaliação;
Evitar testes de múltipla escolha;
Valorizar as respostas pelo seu conteúdo e não pelos erros de escrita;
Proporcionar que o aluno faça a prova em lugar tranquilo para melhor foco da atenção.

* Daniella Didio é psicóloga e psicopedagoga e pode ser encontrada em seu site, www.psicologiaeaprendizagem.com.br, e no seu endereço de e-mail, daniella@psicologiaeaprendizagem.com.br
REFERÊNCIAS

CAPOVILLA, A. G. S.; DIAS, N. M.: Desenvolvimento de estratégias de leitura no ensino fundamental e correlação com nota escolar. Psicologia em Revista 363, Belo Horizonte: v. 13, n. 2, p. 363-382, Dez, 2007.

GIACHETI, C. M. & CAPELLINI, S. A.: Distúrbio de aprendizagem: Avaliação e programas de remediação. In Associação Brasileira de Dislexia. Dislexia: Cérebro, cognição e aprendizagem, Frôntis Editorial, São Paulo: 2000.

LUKASOVA, K.: Alterações fonológicas e motoras na Dislexia do Desenvolvimento. Dissertação de Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2006.

SALLES, J. F.; PARENTE, M. A. M. P.: Avaliação da Leitura e Escrita de Palavras em Crianças de 2ª Série: Abordagem Neuropsicológica Cognitiva, 2007.

SALLES, J. F.; PARENTE, M. A. P.: Processos Cognitivos na Leitura de palavras em crianças: relações com compreensão e tempo de leitura. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15(2), pp. 321-331; 2002

ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. D. S: Transtornos da Aprendizagem - Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. ARTMED, Porto Alegre: 2006.

DIDIO, Daniela. Lidando com a dislexia. Revista Língua Portuguesa. Disponível em: http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/34/artigo250400-2.asp. Acesso em: 09/03/2012.

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